Imagem: Mídia News.
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Da Folha de S. Paulo

Só em 2012, foram mortos quase 23 mil jovens pretos e pardos de 12 a 29 anos no país.

O número é superior à média anual de mortes em conflitos como o da guerra civil de Angola, com 20,3 mil mortos ao ano de 1975 a 2002.

Segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade (IVJ) 2014, a morte de jovens negros em 2012 cresceu 21,3% em relação a 2007. Esta é a primeira vez que a desigualdade racial entra no cômputo do quanto o jovem está vulnerável em cada localidade do país.

Para Valter Roberto Silvério, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da UFSCar, esses dados reiteram a ideia de genocídio dos jovens pretos e pardos, lançada pelo movimento negro em 2007.

“É um termo forte para a academia e a imprensa, mas, se pegarmos esses indicadores espantosos, eu pergunto: que termo usar quando morrem milhares de jovens negros ao longo de anos?”

Segundo Silvério, o debate ainda é marginal e tímido porque o Brasil é uma sociedade racista desde os tempos da Colônia. “Há uma ideologia da mestiçagem que nega o recorte de cor. E, se você coloca esse recorte, se torna algoz, e não vítima.”


‘POPULAÇÃO PERIGOSA’

José dos Reis Santos Filho, do Núcleo de Estudos da Violência da Unesp, avalia que “há estereótipos historicamente introjetados que dizem que a população de baixa renda, especialmente negros e mulatos, é perigosa.”

“Além disso, a população pobre é mais desprotegida. E isso é agravado pelo descompasso entre a omissão das políticas públicas e a discriminação aberta do cotidiano.”

Para Claudio Beato, da UFMG, essa é uma questão racial que se confunde com uma questão econômica. “Quem morre no Brasil é pobre e essa parcela se confunde com a população preta e parda. O dramático é assistirmos passivamente a essa tragédia. Isso porque é um governo que diz se preocupar com os pobres.”

VULNERÁVEIS

Os casos mais extremos de risco relativo são na Paraíba e em Pernambuco, onde um jovem preto ou pardo tem, respectivamente, 13,4 e 11,5 vezes o risco de ser vítima de violência letal.

Esse risco relativo foi obtido levando-se em consideração a proporção de pretos, pardos e brancos na população de cada território. Ou seja, na Paraíba e em Pernambuco o jovem negro tem mais chance ser assassinado não porque lá haja mais pretos e pardos que brancos, mas porque a vulnerabilidade deles é maior.

É por isso também que o único Estado onde um jovem branco tem mais risco de morte que um negro é o Paraná (0,7), mesmo que a proporção de negros lá (28,3%) seja maior que em Santa Catarina (15,3%)e no Rio Grande do Sul (16,2%).

Além do índice de risco relativo, o IVJ avaliou 288 municípios com mais de 100 mil habitantes em itens como frequência escolar, emprego, renda familiar, morte por causas violentas e desigualdade.

Aqueles em que a juventude está mais sujeita à violência estão concentrados no Norte e Nordeste, e os com melhor índice estão principalmente no Sudeste. Alagoas é onde o jovem está mais vulnerável; São Paulo, onde está menos.

Postado por Blog do Gusmão