Jabes Ribeiro. Foto: Alfredo Filho/Secom.
Jabes Ribeiro.

Por José Henrique Abobreira

A política é como nuvem: você olha para cima e vê o formato de uma ave, momentos depois ela já toma uma forma diferente, a de um elefante. Isso dizia o velho sábio e animal político Dr. Ulysses Guimarães, o timoneiro da constituinte que nos legou a Constituição Cidadã.

Faço, porém, um reparo ao pensamento do grande Ulysses e acrescento que, com sua pertinácia e persistência, o protagonista da cena política ilheense pode e deve construir as condições objetivas e subjetivas que o levem a antever as jogadas no tabuleiro político. Assim, verá o formato certo da nuvem e jogará para vencer (quando preciso for).

Sim, falo do Prefeito Jabes Ribeiro, também um animal político, resiliente e estrategista, além de bom entendedor das nuances que permeiam a cena política. Enxerga muito mais longe que a agenda do feijão com arroz que, ingenuamente, tentam lhe impor.

Podem anotar, o script de Jabes transcende essa pauta do cotidiano. Não sou eu que o afirmo, mas a força dos fatos lastreados na realidade dos passos que dá e das ações que promove em direção aos seus objetivos maiores, politicamente falando.

Derrotado em 2004 por um Valderico Reis embalado pela febre que tomou o eleitorado ilheense, Jabes estrategicamente saiu da cena local e se dedicou, na secretaria geral do PP na Bahia, a organizar o partido em todo o estado, ajudando nas costuras políticas dos diretórios municipais, o que alavancou a conquista de prefeituras no interior baiano e lhe permitiu ser lançado a candidato a deputado em duas eleições consecutivas. Recuou para não atropelar candidaturas já postas e não gerar fraturas internas.


Em compensação, ganhou a extrema confiança das lideranças maiores pepistas. Foi o principal interlocutor da legenda junto ao então governador Jaques Wagner nos últimos oito anos, com assento no Conselho Político da Governadoria e voz nas indicações em todos os escalões da máquina estadual. Não só na Bahia, mas em todo o país, o PP foi fortalecido e assumiu pastas ministeriais importantes.

Essa soma de poderes e mais a constante articulação política, com um olho e um pé aqui, sem esquecer sua província, onde sempre teve votos, tudo isso lhe permitiu sonhar com a sua volta à prefeitura, principalmente ao analisar a conjuntura local, após o tsunami Valderico-Newton Lima que varreu a normalidade da estrutura da administração municipal, reduzindo a pó as finanças públicas.  O PT “entrou de gaiato no navio” e não vai demorar muito para explicitar a autocrítica sobre o erro que cometeu ao participar daquele desgoverno.

Com o PT nessa situação, Jabes percebeu, do outro lado, as contradições da Plenária Unificada, que já tinha aglutinado vários partidos em torno da candidatura do Dr. Ruy Carvalho. Importantes lideranças, como a deputada Ângela Sousa, não ajudaram a amalgamar de forma sólida essa aliança. Assim, o atual prefeito “comeu o mingau” pelas bordas, conquistou o apoio de várias legendas por cima e atraiu também uma peça fundamental daquela plenária, o vice Cacá Colchões.

Ganhou a eleição e dedicou-se em 2013 (de corpo e alma) a reorganizar a administração municipal, que encontrou quebrada, devedora em larga escala da folha mensal do funcionalismo, fornecedores e o mais drástico: a prefeitura inadimplente, inscrita negativamente no CAUC (com trinta e cinco certidões de impedimento em órgãos diversos da esfera federal). Isso significava a impossibilidade absoluta do recebimento de verbas de convênios, ficando limitado ao orçamento próprio, com os repasses obrigatórios de ICMS e FPM.

Em meados de 2013, estourou o que ficou conhecido como as jornadas de junho, um conjunto de protestos brotados do seio da sociedade que, justamente, reivindicavam a reforma política no país e uma melhora na qualidade da prestação dos serviços públicos. Em especial: transporte, saúde e educação.

Em Ilhéus não foi diferente. Jovens ocuparam as ruas e a sede da prefeitura. Depois acamparam em frente ao Palácio Paranaguá durante 97 dias. Entretanto, o movimento que se dizia independente das forças partidárias tradicionais, tomou a feição de grupos aparelhados pelo PT local. Com a aliança PT-PP na campanha de Rui Costa, pudemos comprovar juntas e misturadas com Jabes, no mesmo palanque e nas caminhadas, as mesmas figuras que hegemonizaram aquele protesto. Coisas da política (risos).

Voltemos ao plano de reorganização tocado pelo Jabes. Restabelecida a normalidade do pagamento do funcionalismo, retomou a positividade nas certidões do CAUC e, em 2014, o município já articulou recursos no orçamento nacional para tocar projetos paralisados, a exemplo do programa Viva o Morro (para a manutenção dos altos da cidade) e a reforma do Teatro Municipal e da Biblioteca Pública. A municipalidade comprou uma usina de asfalto, o que quer dizer que não ficará uma rua sequer dos bairros populares sem pavimentação asfáltica. O povo deixará de andar na lama.

Lembrem do pacote de obras que Jabes anunciou no dia da cidade. Boa parte delas já foi licitada. Postos de saúde, quadras esportivas e outros projetos já deixaram o plano das ideias e começam a virar realidade.

Toda a obra de saneamento da zona sul está projetada. A despoluição da Baía do Pontal será a consequência natural desse processo. Na saúde, o Hospital da Costa do Cacau já possui área alocada.

Precisamos levantar também aqui na terrinha a bandeira pela construção de um pavilhão de feiras (anexado ao centro de convenções) para robustecer o nosso turismo. O empresário Marco Lessa, presidente da ATIL , promete uma atuação em 2015 com foco nesse projeto.

A estrada de ferro está vindo. Já tem canteiro de obras em Itajuípe para a construção do trecho Jequié-Ilhéus. A construção da segunda ponte foi iniciada e esperamos que o serviço não sofra descontinuidade pelo envolvimento da construtora UTC na Operação Lava Jato.

Meu temor maior é em relação ao Joaquim Levy, o ministro “mãos de tesoura”, mas a população precisa se movimentar, ir às ruas do Brasil, não podemos perder o  avanço social obtido a tão duras penas.

Com a cidade nos trilhos e a capacidade de arrecadação maior (que lhe permita recompor os salários defasados de todas as categorias funcionais, principalmente na educação e saúde), Jabes vai pleitear a reeleição em 2016. Mesmo que assim não o faça nem deseje, terá lugar garantido na equipe do primeiro escalão do novo governador Rui Costa, que montou um secretariado em boa parte constituído de políticos: alguns deles deverão se afastar para candidaturas nas próximas eleições.

José Henrique Abobreira é auditor da receita estadual e membro do PSB. Foi vereador e vice-prefeito de Ilhéus. 

Postado por Blog do Gusmão.