Elenco de 1975 do Esporte Clube Pontal: China é o quinto agachado (da esquerda para a direita).
Elenco de 1975 do Esporte Clube Pontal: China é o quinto agachado (da esquerda para a direita).

Por José Henrique Abobreira e José Rezende Mendonça

Ele começou sua vida de craque ainda menino, nas areias da Praia da Frente, nos babas diários quase em frente ao porto das lanchas e besouros que faziam a travessia da Baía do Pontal, antes de existir a Ponte Lomanto Júnior.

A primeira chuteira que calçou foi para defender as cores do Galícia, junto com seus amigos da bola, Carlinhos Pixiquito, Melhoral, Zé Oval, Carlinhos Pé-de-bolo e cia. Foi craque em todas as modalidades: na paleta, como dizíamos à época (descalço na areia da praia ou no baba da praça), com chuteira no campo ou de tênis, na quadra do ginásio de esportes Herval Soledade.

Do Galícia do Pontal saltou para os times do futebol amador de Ilhéus: Flamengo, Colo Colo e a seleção ilheense.

Era um craque. Levou o nome do esporte de Ilhéus para toda a Bahia, sendo disputado como reforço de várias equipes do interior, do Funil de Ubatã ao Flamengo de Belmonte. China também atuou em Valença, Ipiaú, Jequié e Canavieiras.

O piloto Juarez Cardoso vinha de Belmonte para buscá-lo. Na volta, voava baixo na cidade do extremo sul baiano e dava rasantes sobre o campo de futebol para anunciar a chegada do grande China. A torcida vibrava.

Juarez fazia o serviço completo: voltava para Ilhéus depois da partida. China enchia o aviãozinho com caranguejos. Os candidatos a comer a iguaria belmontense esperavam o craque no Aeroporto do Pontal. Zé Matos e Paraíso puxavam a fila.


China encantava multidões nos estádios, mas poucos conheciam a grandeza excepcional do servidor público, bom amigo e pai de família. Atendia a todos que recorriam ao Hospital Regional em busca de um remédio ou intervenção urgente. Ajudou os pobres. Agia praticamente como um vereador. Só lhe faltavam os recursos de um mandato.

Seu maior orgulho? Ver as formaturas das duas filhas queridas, Cínthia e Simone. Seus olhos enchiam de lágrimas quando lembrava os sacrifícios que a família fez. Dizia que sua força vinha da grande companheira Sussu.

Grande folião, não perdia um carnaval do Bloco do Zé Pereira. Na juventude era o timbaleiro das nossas rodas de samba. Cantava uma música que só ele conhecia: “Ai, Marieta, ai, minha preta, nem que o diabo arranque o rabo eu não largo a minha preta”.

Com China, a noite do Pontal era uma criança. Depois de namorar Sussu “na porta”, saía com um tal de Abobreira que namorava Marlise, vizinha de Sussu. Assim que se despediam das garotas, os dois notívagos partiam para a ronda nas casas noturnas da época: “Berro D’água”, “La Bamba”, “Canibal”, Cen’in e por aí vai.

Panavueiro era quando amanhecia e os dois boêmios topavam com seu Moacir, que acordava cedo para dirigir seu caminhão e passava um “rabo de olho” daqueles de censura ao avistar o futuro genro naquela condição: um pouco com as pernas trocadas, acredita-se que por efeito do balançar da maré que estalava forte no empata-viagem, ali pertinho da casa de “Athayde delegado”.

China faleceu na véspera de natal (quarta-feira, 24), aos 63 anos.

Conversamos a respeito e vamos convidar o prefeito Jabes Ribeiro, os vereadores pontalenses Ivo Evangelista e Roque do Sesp e a comunidade para apresentar uma proposta. Queremos homenagear China batizando a nova quadra esportiva da Praça São João Batista com seu nome. Uma homenagem singela para um filho ilustre, exemplo de desportista e cidadão.

José Henrique Abobreira é auditor da receita estadual e ex-vice-prefeito de Ilhéus.

José Rezende Mendonça é técnico aposentado da Ceplac e escritor. Escreveu “Pontal: entre o passado e o presente”.

Postado Por Blog do Gusmão