domingo, 9 de novembro de 2014

Professor acusado de racismo é suspenso pela Ufes

Segundo o Reitor da Ufes, ficou comprovada a atitude preconceituosa de Manoel Malaguti, tanto pelas declarações dele em sala de aula, quanto pelas declarações que deu à imprensa

Foto: Fernando Madeira
Professor Manoel Luiz Malaguti acusado de racismo por alunos da Ufes
Testemunhas das declarações consideradas racistas por parte do professor Manoel Luiz Malaguti, do departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), os estudantes do segundo período de Ciências Sociais não terão mais que assistir às aulas dele.

A reitoria da Ufes decidiu que ele não dará mais aulas a essa turma. O motivo é a garantia da integridade física e psicológica tanto do professor quanto dos estudantes.

Além disso, o Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe) recomendou à sindicância aberta para apurar as declarações do professor que ele seja afastado de todas as atividades que realiza na Ufes.

“Recebemos estudantes chorando e vimos que não há condições de haver aula com aquele professor”, contou Ethel Maciel, vice-reitora da Ufes.

O reitor Reinaldo Centoducate ponderou que isso ainda precisa ser mais bem analisado, já que seria necessário conseguir substitutos para todas as turmas em que Malaguti dá aulas.

Conforme A GAZETA publicou com exclusividade na última terça-feira, estudantes relataram que o professor Malaguti fez declarações racistas, principalmente relacionadas a cotistas, durante aula na última segunda-feira. 

Em entrevista, o professor admitiu algumas das afirmações: “No meio de uma discussão sobre cotas e sobre o sistema educacional, eu coloquei que se tivesse que escolher entre dois médicos, um branco e um negro com o mesmo currículo, escolheria um branco”.

A comissão da sindicância tem 30 dias para concluir a apuração, mas o reitor Centoducate acredita que o prazo seja menor porque o professor confirmou em entrevistas algumas de suas declarações.

O resultado da sindicância será usado para abertura de um inquérito administrativo, que terá prazo de 90 dias para ser concluído.

O relatório então será encaminhado para a reitoria, que decidirá qual a possível punição ao professor.

Para que sua decisão não seja questionada, o reitor preferiu não opinar sobre a situação, mas afastou da universidade qualquer intenção discriminatória.

“Não compactuamos com qualquer tipo de discriminação. Repudiamos qualquer ação discriminatória”, garantiu Centoducate.

As punições ao professor podem ser advertência oral, advertência na ficha funcional, suspensão e exoneração. O professor já respondeu a quatro processos administrativos, com punições que variaram de multa a suspensão por 30 dias.

Ministério Público Federal abriu procedimento para apurar caso e professor será alvo de investigação criminal

As declarações consideradas racistas do professor Manoel Luiz Malaguti agora são alvo do Ministério Público Federal no Espírito Santo (MPF/ES), que instaurou procedimento investigativo criminal para apurar o caso.

O procurador da República Ercias Rodrigues de Sousa solicitou que a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) apresente informações em 48 horas sobre o professor, sobre a lista de presença dos alunos e a cópia da representação contra Malaguti. 

“A partir daí vamos ouvir os alunos que presenciaram o fato e também o professor”, declarou o procurador da República, em texto divulgado pelo MPF/ES.

O procedimento do Ministério Público Federal foi instaurado após representação apresentada pelo desembargador Willian Silva. “Ele deveria ficar calado. A cada vez que ele fala, está piorando a situação dele porque ele continua ratificando a posição preconceituosa dele, a posição racista, nazista, segregacionista dele”, disse o desembargador, em entrevista à Rádio CBN Vitória, na tarde de ontem.

O presidente da Comissão de Igualdade Racial da seccional capixaba da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/ES), José Roberto de Andrade, repudiou as declarações do professor.

“Não descartamos ter uma iniciativa própria da Ordem dos Advogados. Vamos acompanhar todos os procedimentos. As declarações foram muito ofensivas”, avaliou.

Ele explicou que a situação do professor pode ser enquadrada em caso de injúria racial ou em crime de racismo. Na injúria, o ataque é a uma pessoa. No caso do racismo, é a uma coletividade. “Ele fez as duas coisas”, afirmou o representante da OAB. 

O advogado explica que em casos de injúria e racismo é preciso procurar uma delegacia para registrar boletim de ocorrência. “Pode buscar orientação também na OAB e na Defensoria Pública do Estado”, aconselhou o professor.

Indignação


Um servidor público federal, indignado com as declarações de Malaguti, encaminhou também à Procuradoria da República no Estado uma representação criminal contra o professor da Ufes. 

Escrivão especial da Polícia Federal, Marcos Valério Lima Barbosa diz que sentiu-se ofendido em sua dignidade humana e discriminado como cidadão negro.

Formado em Direito, ele afirma que o professor praticou crime de injúria racial. “É um absurdo. Hitler começou assim”, diz Barbosa, referindo-se a Malaguti. 

Procurado por A GAZETA, o professor Manoel Malaguti disse que não daria mais entrevistas sobre o assunto. Informou que prefere aguardar a formalização das denúncias para se manifestar sobre o assunto. 

Ufes: estudante cotista tem desempenho igual ou superior

Foto: Foto: Ricardo Medeiros - GZ
Universitários defendem a política de cotas e repreendem posição de professor
A Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) rebateu as afirmações do professor Manoel Luiz Malaguti de que estudantes cotistas têm desempenho inferior ao de outros universitários. “Ele está equivocado. Na média, os estudantes que entram sem cotas são equivalentes ao de cotas”, garantiu Reinaldo Centoducate, reitor da Ufes.

Pesquisa realizada de 2008 a 2011 mostrou que estudantes cotistas e não cotistas possuem desempenho similares. O levantamento considerou desempenho de todos os alunos de 72 cursos. A Ufes adota reserva de vagas desde 2007.

“Em 60% desses cursos os estudantes cotistas tiveram desempenho igual ou superior ao de não cotistas”, afirma Maria Auxiliadora Corassa, pró-reitora de Graduação. “O fato de ser cotista, não é determinante para o desempenho”, ressaltou a pró-reitora. 

O professor disse que é preciso diminuir o nível das aulas para atender a estudantes negros cotistas. “Eles têm muito mais dificuldades de acompanhar determinadas exposições”, disse em entrevista publicada ontem em A GAZETA.

O reitor da Ufes garantiu que a universidade presta assistência aos universitários e dá condições de estudo a eles. “R$ 14 milhões por ano, de verba federal, são investidos em assistência estudantil. Além disso, colocamos mais R$ 10 milhões. Recebem assistência 4.132 estudantes. Desses, 555 são negros”, detalhou o reitor.

Entre as ajudas estão auxílio transporte, moradia permanente, alimentação e auxílio língua estrangeira. 

Indignação

As declarações do professor ecoaram entre estudantes, principalmente cotistas. “Até hoje, as pessoas do gueto são discriminadas. Sou muito a favor da política de cotas”, afirma Bruno Lima dos Santos, 18, morador de Cariacica e estudante de Geografia na Ufes.

“O que ele disse é um absurdo. Nunca vou ter coragem de estudar com um professor que me ache menos capaz do que um colega branco”, disse o estudante Jorge Malta, 22 anos. A estudante Ester Dias, 22, completa: “Antigamente, as universidades eram brancas. Agora, felizmente, não é mais assim. Sou a favor das cotas”. (Colaboraram Alexandre Lemos, Cláudia Feliz, Elton Lyrio e Patrik Camporez)
 
 
Entenda o caso
 
Na última segunda-feira (03) o professor declarou, durante uma aula para o segundo período do curso de Ciências Sociais, que "detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”.
 
Ele causou revolta nos alunos, que fizeram uma denúncia formal contra o professor por preconceito racial.  Em entrevista ao Gazeta Online o professor explicou que a frase foi dita durante uma discussão sobre cotas raciais na universidade e reiterou que se pudesse escolher entre dois médicos com o mesmo currículo, um branco e um negro, optaria pelo médico branco. 
 
Fonte: Gazeta Online

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