terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Coordenador do Território chama diretor geral da Ceplac de forasteiro

Postado por http://agora-online.com.br/
joelsonnn
Entrevistado: Joelson Ferreira de Oliveira
Coordenador Regional do Território Litoral Sul
Justificando não tratar-se de bairrismo, o coordenador regional do Território Litoral Sul, Joelson Ferreira de Oliveira, argumentou a importância de uma diretoria da Ceplac mais "afinada" com os interesses da região cacaueira na Bahia. Após a passagem quase desastrosa do paraense Jay Wallace pela direção do órgão federal, a primeira aparição oficial do novo diretor Hélliton Rocha foi altamente criticada pelo coordenador de um dos principais órgãos de articulação de políticas públicas no campo da região. Confira trechos nesta entrevista:
Jornal Agora - Como observou a troca de comando na Ceplac?
Joelson Ferreira de Oliveira - A Ceplac é um importante órgão para pensar o cacau e colocam uma pessoa do Pará que não aprofundou um grande diálogo na região, que foi o Jay Wallace. Agora realizaram a substituição sem nenhuma discussão com a região que foi a chegada de Héllinton Rocha. Até aí tudo bem, é uma decisão de governo que a gente respeita. Mas, na primeira vinda à Bahia este diretor protagoniza um ato de desrespeito às lideranças regionais, ao próprio diretor da Ceplac, demonstrando um desrespeito total à região.
J. A. - Qual a primeira impressão deixada pelo novo diretor durante evento ocorrido esta semana na própria Ceplac?
J. F. O. - Em um evento para lançar cartilhas técnicas para a Agricultura Familiar, produzidas com recursos da Agricultura Familiar, só quem foi convidado para a mesa foram os representantes da agricultura, toda a cúpula da CNA (Confederação Nacional da Agricultura). O que ficou entendido é que o novo diretor não tem consideração alguma pela região e nem tão pouco está disposto a abrir um diálogo construtivo para que seja, de fato, reerguida a região cacaueira.
J. A. - O que de fato ocorreu no evento na Ceplac que tanto desagradou a coordenação do território?
J. F. O. - O diretor geral da Ceplac veio para um evento da Agricultura Familiar, lançar cartilhas produzidas com o dinheiro da agricultura familiar e, para isso, trouxe para a mesa toda a representação da agricultura industrial para a mesa, no intuito de nos representar. Pior ainda é que só ele queria falar, não dando direito às representações e, queria chamar aquilo de diálogo. É diálogo da Casa Grande Senzala de novo, onde só a Casa Grande fala e a Senzala tem que se calar?
J. A. - Qual é o papel do Território na interlocução regional e por que a representação sentiu-se tão ofendida?
J. F. O. - A política territorial é do governo federal que veio para abrir o diálogo da sociedade civil, junto aos poderes públicos para dar uma nova resposta ao pacto federativo. Quando não se legitima esta política, está indo contra à própria política governamental. E foi o que fez o diretor geral da Ceplac que, como representante do governo federal, teria que aproximar, e não fragmentar este diálogo.
J. A. Como percebe o diálogo Território- Ceplac antes do processo de troca de comando do órgão federal?
J. F. O. - Antes tínhamos um diálogo muito bom, principalmente pela postura aberta de Juvenal Maynart (superintendente regional), quem abre uma nova discussão sobre o cacau cabruca a partir da Rio + 20, sistema agroflorestal importantíssimo que vem há mais de 250 anos protegendo a mata atlântica. Percebemos que havia a abertura com os diversos setores da sociedade, principalmente os pequenos produtores.
J. A. - Qual a participação da agricultura familiar na cacauilcultura da região?
J. F. O. - Hoje os pequenos produtores de cacau assentados na região representam 100 mil hectares de cacau plantado na região, fruto da agricultura familiar colaborando para a economia da lavoura cacaueira. Temos que ser ouvidos.
J. A. - Além da própria representação entre os pequenos agricultores familiares da lavoura cacaueira, quais ações e programas desenvolvidos pelo Território Litoral Sul legitimam a reivindicação no processo?
J. F. O. - Nós fazemos pesquisa com cacau cabruca e com cacau orgânico há mais de seis anos; realizamos recentemente uma Jornada Agroecológica que trouxe a maior autoridade em agroecologia do Brasil, Ana Primaveris; estamos trabalhando o cacau não com a perspectiva da amêndoa, mas da cadeia produtiva do cacau, o que também está sendo levado para a sivilcultura, a partir da expectativa de produção de móveis e instrumentos. Tanto para o cacau, quanto para a madeira, a intenção é produzir bens certificados em toda cadeia.
J. A. - Como está definido hoje o Território Litoral Sul ?
J. F. O. - São 26 municípios com chuvas abundantes, terras fartas, mão de obra qualificada para a agricultura, mas o segundo colocado no ranking de territórios com maior número de inscritos no Cadastro único do Governo Federal para Programas Sociais de Transferência de Renda. Não queremos este mérito das políticas compensatórias. Queremos do Governo federal e estadual um projeto de desenvolvimento para que a região saia do dilema em que está.
J. A. - Quais as possíveis consequências ambientais do atual modelo extrativista executado na região?
J. F. O. - A ampliação do modelo de pecuária extensiva, entre outras práticas, gera um prejuízo enorme para as nascentes de água, para o estrangulamento dos centros urbanos, com a superlotação das cidades pela continuação do êxodo rural e das cidades de pequeno porte, e só ganharemos em índices de violência, como já se registra hoje em Itabuna.
J. A. - Qual a principal demanda hoje à Ceplac para que seja retomado o diálogo com o Território Litoral Sul?
J. F. O. - Precisamos que a direção da Ceplac mude de postura e reconheça a história de luta e construção da representatividade da agricultura familiar. O respeito ao diálogo participativo é a base fundamental, no qual todos tenham direito à palavra. Sobre as reivindicações pontuais, a região já tem agricultura forte, o que precisa é de dinheiro novo para garantir a cadeia produtiva e não somente o plantio e colheita da amêndoa.
J. A. - Existe uma demanda por uma nova direção do órgão?
J. F. O. - O que existe é a demanda por uma diretoria afinada com a região cacaueira fortalecida. É preciso entender que 70% do cacau no Brasil está na Bahia e, sem bairrismo, o governo não pode colocar um forasteiro para querer implantar as políticas autoritárias da antiga UDN através da CNA.

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