segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O barbeiro e o sonhador


03 de janeiro de 2011
*Elias Reis
Tudo é possível para aquele que crê...
     Meados dos anos 90, um rapaz por nome de Edvaldo Nascimento, morador da Rua da Palha e dono de uma pequena vendinha na esquina, conversava com seu amigo ‘Zé da barbearia’ sobre os seus sonhos. Numa dessas visitas a Zé para fazer o cabelo, Edvaldo falava sobre a vontade de vencer na vida, por isso, saia de Coquinhos para Ilhéus, na tentativa de ganhar dinheiro, dá uma educação melhor as suas filhas e, quem sabe um dia, tornar-se uma autoridade política na cidade intitulada Rainha do Sul.  Desde moço Edvaldo era visto como uma pessoa servidora, solicita e interessada no bem estar da sua comunidade. Antes, porém, Edvaldo foi comerciante na cidade de Itabuna, sem sucesso.
    Numa outra oportunidade, sentado na cadeira da tenda de Zé pra dá um trato na calva cabeleira, contou que tentaria ser candidato a vereador em Ilhéus. Logo, Zé respondeu: “Autoridade em Ilhéus, desista! Ser vereador, nem pensar! O povo de Ilhéus só elege quem tem dinheiro. Desista Edinho” como chamava Edvaldo.
    “Vou me filiar em um partido bom. Disseram-me que só ganha eleição quem for filiado.”
    “Sai dessa Edinho, vai cuidar de sua vendinha e procurar vender seus doces. Você é pobre e tem pouco estudo, rapaz! Pobre igual a você não vai pra lugar nenhum. Ainda mais nesses partidinhos que nunca pobre ganha. Você é doido, é?”
    Edvaldo se filiou inicialmente no PSDB e, logo depois, percebendo que era barca furada caiu fora. Em seguida procurou Jorge Farias e se filiou no PSDC. “Não tenho dinheiro, mas, toda semana vou dá um brinde a Oscar Valente (caixa de bombom da garoto) pra sortear em seu programa na Santa Cruz e, assim já começam a divulgar meu nome”. A estratégia deu certo.
    Zé da barbearia sempre pessimista-, desestimulava Edvaldo e duvidava da audiência do Programa Alegria Alegria, apresentado pelo repórter do povo, aos sábados à tarde no prefixo 1.090. Oscar foi o primeiro da imprensa a divulgar Dinho. Agora já conhecido como Dinho da Bomboniere.
     A partir daí Dinho da bomboniere começou a participar ativamente dos movimentos do bairro. Foi diretor da Associação de Moradores, foi membro do Conselho de Segurança da zona sul e sempre participou dos mutirões realizados na Rua da Palha.
    Sempre que aparecia em Zé da barbearia, ouvia sempre o mesmo pessimismo: “Rapaz, vai cuidar de sua bomboniere, sem dinheiro você não vai pra lugar nenhum. Esqueça essa coisa de vereador”.
    Sempre otimista e disciplinado, em 2007 Dinho montou uma revenda de Botijão de Gás vizinho à bomboniere. A partir daí começou a ser apelidado de Dinho Gás.  Dinho sempre foi religioso e presente em eventos das Igrejas protestantes, como também o primeiro a carregar o andor da festa da padroeira do bairro. De olho no Palácio Monsenhor Teodolindo Ferreira, ser ecumênico foi preciso. Dinho nunca faltou a um enterro e sempre colaborava com quermesses e festas de largo. “Sempre me ajudou nas minhas gincanas”, afirma Silvana Veneno.
   Em um novo retorno a Zé da barbearia, Dinho se mostrava confiante e decidido. “Creio que terei vitória, Deus tem um projeto na minha vida”, E, perguntou ao barbeiro: Vai votar em eu?”-, Zé de pronto respondeu: “Não. Não gosto de perder o meu voto!”
    Em outubro de 2008 Dinho é eleito como um dos vereadores mais votado de Ilhéus.  Tornando-se a mais alta autoridade da Rua da Palha, agora Bairro de Nossa Senhora da Vitória.
     Passado alguns meses, depois da posse, Dinho volta ao barbeiro para fazer mais uma vez o seu ralo cabelo. E Zé lhe pergunta: “Dinho você ganhou mesmo a eleição, né. E quando você tomou posse junto com aquele povo todo rico, professores e doutores, o que eles disseram pra você?
    Dinho respondeu: “Olha Zé, o médico Aldemir Almeida, os professores Paulo Carqueija, Alzimário Belmonte, Carmelita Ângela, o meu líder Jailson Nascimento e até mesmo o advogado Marcos Flávio chegaram bem perto do meu ouvido e perguntou: ‘Onde você faz esse corte de cabelo tão bonito?”
     Existem muitas pessoas como esse barbeiro, que vêem tudo com óculos escuros e falam mal de tudo e botam gosto ruim também em tudo. O pessimismo instalado no coração precisa desaparecer definitivamente de nossa vida.
    É preciso sempre acreditar, como fez Dinho Gás. É preciso recuperar a fé. É preciso crê. O pessimista mina nossa fé como o detergente acaba, não só com a gordura, mas com o melhor azeite.
    No último dia 15 de dezembro, Dinho consegue avançar mais um degrau em sua vida. É eleito Presidente da Câmara Municipal de Ilhéus, tornando a 3ª autoridade política da cidade, prometendo mudanças, avanços e uma relação amistosa com o poder executivo.
    O sonho ainda não acabou. Torcemos pela humildade, pela responsabilidade, pelo compromisso de homem público e, principalmente pela independência.
   E, esperamos continuar essa crônica no norte dos louros.
    

 *Elias Reis é articulista e Presidente do Sindicato dos Radialistas de Ilhéus.
eliasreis.ilheus@gmail.com

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